domingo, 4 de outubro de 2009

A montanha de serragem

    Uma montanha de serragem, era isso o que era. Quem pulava mais alto, quem dava a cambalhota mais engraçada, quem alcançava as nuvens. Era assim que eu brincava com meu irmão e primos quando visitávamos a minha avó.
    Um por um, subíamos num galho bem alto do abacateiro, e de lá nos lançávamos na maior aventura que conhecíamos. Desafiando a gravidade e pulando para a montanha de serragem.
    E assim, fazendo essa incansável brincadeira, muitas tardes se passaram em minha vida. Assim como aquelas tardes, também muito tempo passou, e até hoje ainda sinto o cheiro do pó da madeira cortada.

Urba

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Pergunta

Contemplou seus cabelos no espelho, grisalhos e já com entradas, porém impecavelmente fixados com precisão cirúrgica por uma leve camada de gel, importado, é claro.
A quase que total ausência de rugas em seu rosto não delatava sua idade e o vistoso cavanhaque, sempre muito bem aparado, lhe dava ares de um verdadeiro nobre.
Sempre usou ternos muito bem cortados, camisas com abotoaduras e um inseparável jacaré de ouro, que pertencera ao pai, para prender as gravatas de pura seda italiana, sem falar nos lustrosos sapatos de cromo alemão. Com seus um metro e noventa de altura envergava como ninguém um smoking, que associado ao tal ar de nobreza, lhe davam um porte de cavalheiro inglês.
Dono de uma educação e cultura impares, jamais perdeu a pose que sua pessoa lhe imprimia, jamais perdeu o controle, a paciência ou a calma diante de qualquer que fosse a situação. Um verdadeiro “gentleman”, de fato esta era a melhor definição a qual podia atribuir a si mesmo.
Porém nem todo o charme e refino aristocráticos foram suficientes para revelar uma resposta à pergunta que lhe brotou à mente, após o terrível assalto que sofrera dez minutos atrás, ali mesmo, naquela boate:
- Como sairei nu deste banheiro?

Urba